23 de agosto de 2011

Mulher


A Era da Insensatez...
* Márcia Gori

            Esta última REATECH foi uma das melhores que estive, tanto em animação, programação de eventos, em gente bonita, mas também fui surpreendida com um comentário que me deixou um tanto aborrecida e reflexiva: vieram me perguntar se eu estava curtindo um lado “homo”, devido ter tomado à decisão de raspar a cabeça e curtir ficar careca. No primeiro momento, achei graça, pensando que era uma brincadeira... mas depois vi que o comentário foi maldoso e com certa inveja.
            Vocês vão pensar, porque ela está comentando este fato aqui, com que intuito ela vem com esta historinha ? Bom, o que me chamou atenção neste fato é que as pessoas são extremamente preconceituosas e vivem em busca de uma perfeição que está somente no campo mental de cada um... O que é belo pra você ???
            Diante disso, vieram várias perguntas em minha mente, martelando e exigindo respostas objetivas e claras para satisfazer o desconforto e a minha irritação perante tal absurdo da ignorância que abate nossa sociedade... Porque o diferente incomoda tanto ? Onde está escrito e determinado que uma mulher, para ser bonita e desejada, seja obrigatório que tenha longos cabelos sedosos ? Minha sexualidade está em minha mente, espírito, ou nos meus cabelos ? Qual o padrão de beleza que devemos seguir? O que nos faz feliz e realizada ?  Ou o que a mídia está enfiando goela abaixo ? O que determina a beleza, o brilho nos olhos, a energia positiva ou o corpo escultural siliconizado ?
            Certa vez, um amigo comentou comigo, o que chama a atenção dele em uma mulher é a sua naturalidade, gostar de si mesma, ser vaidosa em se cuidar, mas sem a neura da perfeição, em se aceitar com a celulite, a gordurinha fora do lugar e ser GOSTOSA !!! Isso que é ser deliciosa aos olhos de um homem, porque essa mulher é real e não uma mercadoria com código de barras, que se ele encostar, quebra...
            Nós mulheres com deficiência, em vista desta “beleza” imposta, já estamos em desvantagem na hora da conquista. Assim como o homem aproxima-se primeiro pelo visual, em segundo plano pelo papo, porque também ser bonita não é garantia do cara ficar com ela, caso abra a boca e fale besteira, é desestimulante para não usar o jargão popular.
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            O que garante a aproximação desse homem tão visualista até essa mulher ? Os olhos, pele, sorriso, energia, cheiro ou curiosidade ? Não importa, desde que se aproxime e dê a oportunidade de conhecer para decidir se quer continuar ou não... sendo assim, onde entra o padrão de beleza imposta ?
            Nesta era da insensatez, do contra-senso, do imoral, falamos tanto na diversidade humana, entretanto ainda damos crédito ao fascismo da moda e da mídia, nesse consumismo desenfreado buscando uma beleza perfeita para satisfazer um ego social doente, uma sociedade vazia e fútil que não permite espaço para o diferente, o irreverente, o descolado, o tatuado, o deficiente... embora pareça que haja essa aceitação social, contudo o preconceito ainda está lá, bem incubado.
            Nós, mulheres com deficiência, estamos em desvantagem em várias áreas, saúde, trabalho, e também na paquera, porque nossa beleza é muito mais profunda, não é superficial como da maioria das mulheres. Há necessidade da aproximação, da compreensão, do olhar mais intenso para descobrir a essência que existe em nossos corações e corpos, para sentir a intensidade desse encontro, desse calor humano.
            Então, a beleza está nos olhos e coração de quem vê ou nessa mídia consumista que apregoa o silicone, os excessos da perfeição e assim, excluí aqueles que não tem o privilégio de ter dinheiro para se refazer para acompanhar essa onda ? Isso mesmo ! To falando de dinheiro, porque não existe gente feia... existe gente sem dinheiro... (risos).
            Porque o diferente fere tanto a normalidade do belo ? Quem ganha com tudo isso, sendo que todos têm direitos iguais ? Porque tanta insegurança dos “normais” perante a autoestima de alguém “diferente” ? Será que é por causa da ruptura do casulo de outros “diferentes”, impulsionando a queda da máscara do perfeito, para que de fato tenhamos a aceitação da diversidade no sentido real ?

Fiquemos com essas questões para reflexões, mesmo porque não existem respostas para elas... por enquanto !!!

            Até o nosso próximo encontro !!!


 Este texto pertence a Marcia Gori ( site www.revistareacao.com.br)

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